A Informação Passada a Limpo

A Informação Passada a Limpo

Ave Patativa do Assaré - O Cearense do século...

5 de março - Se estivesse vivo, Patativa do Assaré estaria completando 99 anos de idade...
"Um ser extraordinário, que mesmo frequentando a escola somente por quatro meses aprendeu a ler, escrever, tocar viola e versejar tornando-se o maior poeta do Nordeste e um dos maiores do Brasil. Para chegar onde chegou, tinha uma receita simples: dizia que para ser poeta não era preciso ser professor. 'Basta, no mês de maio, colher um poema em cada flor brotada nas árvores do seu sertão'. O Poeta Matuto, como era conhecido soube como ninguém cantar o Nordeste com suas belezas, tristezas e alegrias. Mesmo com pouco estudo tornou-se Doutor Honoris Causa de diversas universidades, entre elas a de Sorbone na França, onde é estudado na cadeira de Cultura Popular Universal. Fez muitas amizades tanto no meio artistico quanto político onde possuia grandes amizades participando de diversos movimentos populares como das Diretas Já (ao lado de Ulisses Guimarães), de vários programas de televisão como Domingão do Faustão, Programa do Jô e participação na novela Renascer da TV Globo ao lado de Jakson Antunes, Sérgio Reis e Almir Sater (seus grandes amigos). Ao longo da vida manteve estreita amizade com Luiz Gonzaga que gravou a música de sua autoria "A Triste partida", com Fagner que gravou Vaca Estrela e Boi Fubá e tantos outros intelectuais que viam na sua poesia simples mas de grande estética a voz do povo sofrido do Nordeste. Patativa escreveu mais de vinte livros de poesia, gravou mais de uma dezena de discos onde recitava seus poemas e foi tema de vários dcocumentários que registraram sua extraordinária capacidade de criar poesias e sua vida simples, pois mesmo com todos esses atributos, Patativa nunca viveu da arte. Nasceu e viveu a vida inteira em uma casa simples de barro no pé da Serra de Santana, no município de Assaré, onde sempre trabalhou de roça 'no cabo da enxada' por toda a vida até a velhice, mesmo com tantos amigos ricos e ilustres como o senador Tasso Jereissatte (seu amigo íntimo), o ex presidente Fernando Henrique Cardoso e o atual Luiz Inácio Lula da Silva, de quem era admirador e eleitor fervoroso. Desde os 91 anos de idade com a saúde abalada por uma queda e a memória começando a faltar, Patativa dizia que não escrevia mais porque, ao longo de sua vida, 'já disse tudo que tinha de dizer'. Patativa morreu em 08 de julho de 2002 na cidade que lhe emprestava o nome. Por tudo isso Patativa merece ser lembrado não apenas como um poeta cerense ou nordestino, mas como O MAIOR POETA POPULAR do Brasil e do mundo..."
Ave Patativa do Assaré
Reinaldo.

No Memorial de Patativa na cidade de Assaré, ao lado de uma estátua do grande poeta cearense.
Cartaz comemorativo em alusão aos 99 anos de Patativa
Foto do Memorial de Patativa no centro da cidade de Assaré - CE
Eu e o Diego ao lado da estátua de Patativa na praça da cidade de Assaré - CE
Um dos seus discos de poesias e canções
Todos os livros lançados por Patativa tiveram grande sucesso, mas este foi o que mais vendeu tornando o velho poeta conhecido no Brasil inteiro...
O poeta com a ave que lhe emprestou o nome de Patativa...
Patativa em frente a casa onde nasceu e viveu toda sua vida, no pé da Serra de Santana, em Assaré
Patativa em frente ao prédio que hoje abriga seu Memorial na cidade Assaré

Patativa, por ele mesmo
Eu, Antônio Gonçalves da Silva, filho de Pedro Gonçalves da Silva, e de Maria Pereira da Silva, nasci aqui, no Sí­tio denominado Serra de Santana, que dista três léguas da cidade de Assaré. Meu pai, agricultor muito pobre, era possuidor de uma pequena parte de terra, a qual depois de sua morte, foi dividida entre cinco filhos que ficaram, quatro homens e uma mulher. Eu sou o segundo filho.

Quando completei oito anos, fiquei órfão de pai e tive que trabalhar muito, ao lado de meu irmão mais velho, para sustentar os mais novos, pois ficamos em completa pobreza. Com a idade de doze anos, freqüentei uma escola muito atrasada, na qual passei quatro meses, porém sem interromper muito o trabalho de agricultor. Saí­ da escola lendo o segundo livro de Felisberto de Carvalho e daquele tempo para cá não freqüentei mais escola nenhuma, porém sempre lidando com as letras, quando dispunha de tempo para este fim. Desde muito criança que sou apaixonado pela poesia, onde alguém lia versos, eu tinha que demorar para ouvi-los. De treze a quatorze anos comecei a fazer versinhos que serviam de graça para os serranos, pois o sentido de tais versos era o seguinte: Brincadeiras de noite de São João, testamento do Juda, ataque aos preguiçosos, que deixavam o mato estragar os plantios das roças, etc. Com 16 anos de idade, comprei uma viola e comecei a cantar de improviso, pois naquele tempo eu já improvisava, glosando os motes que os interessados me apresentavam.

Nunca quis fazer profissão de minha musa, sempre tenho cantado, glosado e recitado, quando alguém me convida para este fim.

Quando eu estava nos 20 anos de idade, o nosso parente José Alexandre Montoril, que mora no estado do Pará, veio visitar o Assaré, que é seu torrão natal, e ouvindo falar de meus versos, veio à nossa casa e pediu à minha mãe, para que ela deixasse eu ir com ele ao Pará, prometendo custear todas as despesas. Minha mãe, embora muito chorosa, confiou-me ao seu primo, o qual fez o que prometeu, tratando-me como se trata um próprio filho.

Chegando ao Pará, aquele parente apresentou-me a José Carvalho, filho de Crato, que era tabelião do 1o. Cartório de Belém. Naquele tempo, José Carvalho estava trabalhando na publicação de seu livro “O matuto Cearense e o Caboclo do Pará”, o qual tem um capí­tulo referente a minha pessoa e o motivo da viagem ao Pará. Passei naquele estado apenas cinco meses, durante os quais não fiz outra coisa, senão cantar ao som da viola com os cantadores que lá encontrei.

De volta do Ceará, José Carvalho deu-me uma carta de recomendação, para ser entregue à Dra. Henriqueta Galeno, que recebendo a carta, acolheu-me com muita atenção em seu Salão, onde cantei os motes que me deram. Quando cheguei na Serra de Santana, continuei na mesma vida de pobre agricultor; depois casei-me com uma parenta e sou hoje pai de uma numerosa famí­lia, para quem trabalho na pequena parte de terra que herdei de meu pai. Não tenho tendência polí­tica, sou apenas revoltado contra as injustiças que venho notando desde que tomei algum conhecimento das coisas, provenientes talvez da polí­tica falsa, que continua fora do programa da verdadeira democracia.

Nasci a 5 de março de 1909. Perdi a vista direita, no perí­odo da dentição, em conseqüência da moléstia vulgarmente conhecida por Dor-d’olhos.

Desde que comecei a trabalhar na agricultura, até hoje, nunca passei um ano sem botar a minha roçazinha, só não plantei roça, no ano em que fui ao Pará.

ANTÔNIO GONÇALVES DA SILVA, Patativa do Assaré.

Um comentário:

Anônimo disse...

Os idulos são como o espantalho em pepinal e não podem falar; necessitam de quem os levem, porquanto não podem andar. não tenhais receios deles, pois não pode fazer o mal e não está nele fazer o bem.

Jeremias10:5


Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima dos céus nem embaixo na terra, nem nas águas de baixo da terra.

Êxodo 20:4

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