A Informação Passada a Limpo

A Informação Passada a Limpo

O desabafo da professora Amanda

Semana passada foi muito construtiva para a educação do nosso país. Não que tenha acontecido algo notável, no sentido de mostrar ao mundo que o Brasil está no caminho certo, promovendo avanços significativos na educação que o credenciariam para entrar no seleto time de países desenvolvidos do mundo.

Para nossa tristeza esse sonho ainda não aconteceu. O que tornou a semana importante sob o aspecto educacional foi justamente o retrato da educação que de forma simples, inteligente e reflexiva, trouxe á luz a face verdadeira e oculta do nosso sistema de ensino que através da mídia entrou nos lares e nos corações das pessoas.

Durante toda a semana, o Jornal Nacional fez diariamente reportagens que mostravam de forma bastante fiel e didática os melhores e os piores exemplos da educação no país, valendo-se, para isso, da análise dos números do IDEB [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica], de informações prestadas pelas secretárias estaduais e municipais de educação que foram auferidas com visitas as melhores e as piores escolas de alguns municípios brasileiros.

A partir disso, montou-se um retrato obscuro de uma educação digna de países do terceiro mundo, uma realidade que exclui, oprime e amordaça o futuro de seus cidadãos que desejam vencer através dos estudos.

Mas não restam dúvidas que o ponto alto da questão foi o desabafo da professora Amanda Gurgel, uma nordestina iluminada que soube ser a voz de milhões de educadores que têm um fardo pesado para carregar e condições insuficientes pra cumprir a tarefa – dos discursos oficiais- de ser “A SALVADORA DA PÁTRIA”. A sábia professora AMANDA, expôs como poucas a realidade, os desafios e os dramas da educação e dos educadores brasileiros. Alguns deles possuem longas e cansativas jornadas de trabalho [manhã, tarde e noite], recebendo, na maioria dos casos, um pobre salário mínimo.

Como é possível salvar o mundo recebendo uma remuneração que mal dá pra sobreviver? Como pode alguém fazer uma educação de qualidade com salas lotadas? Com alunos sentados no chão? Com uma merenda escolar [gororoba] de péssima qualidade? Enfim, a professora Amanda falou abertamente que, ao contrário dos números, a educação é feita de pessoas, pessoas que possuem sonhos, pessoas simples e humildes que só tem uma chance de subir na vida e por isso uma educação de qualidade é a única ferramenta capaz de lhes dá as condições pra atingir seus objetivos.

Essa realidade triste, infelizmente, também povoa o universo da educação luziense, ganhando contornos de tragédia que encurta os caminhos de seus estudantes, destrói os sonhos dos seus educadores que ficam inertes e sem condições de “salvar o mundo” tal como a professora Amanda relatou em sua fala que, mesmo de outro estado, serve pra gente aqui de Santa Luzia do Pará.

Conforme os boletins do Sinttep [Sindicato dos Trabalhadores da Educação Pública do Estado do Pará - secção local], os repasses de recursos públicos para o setor da educação do município de Santa Luzia do Pará cresceram de forma acentuada nos últimos anos. Somente, no período de janeiro à maio, foram mais de cinco milhões de reais. Por que esse dinheiro não foi investido de forma eficiente pra mudar essa triste realidade que se apresenta na educação local e coloca o município entre os piores IDHs do estado?

É preciso que a decência, a eficiência, a honestidade e a boa gestão ocupem o lugar dos discursos de ocasião que só vê as pessoas como eleitores e às vésperas das eleições. A educação local tem urgência e os filhos de Santa Luzia não podem ficar órfãos do futuro, enquanto alguns se beneficiam de volumosos recursos. Quantos médicos, advogados, professores, enfermeiros... Não seriam formados aqui, se a educação fosse levada á sério de verdade? Temos potencial para criar o progresso, mas é preciso que nos dêem a direção correta e as condições necessárias.

Jorge Daniel
[Professor, geógrafo e especialista em Educação Ambiental]

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.