A Informação Passada a Limpo

A Informação Passada a Limpo

Ao vencedor: as batatas...

O mestre do realismo literário brasileiro [Machado de Assis] costumava falar de forma sutil e pedagógica em suas obras, as mazelas da sociedade brasileira, denunciando o que estava por trás dos discursos: moralidade, corrupção, ganância, individualismo, desprezo... que as elites e boa parte dos políticos brasileiros nutriam e ainda nutrem pelo parcela mais carente da sociedade.

O desencanto de Machado de Assis era tamanho que ele sugeria que alguns sonhos e lutas, por mais belas que fossem, eram apenas meios de manipulação e artimanhas individuais ou coletivas para a conquista do poder. Era o objetivo final de todas as guerras e depois disso “ao vencedor, as batatas...”, ou seja, o deleite, o usufruto das vantagens pessoais, o enriquecimento e o abandono dos projetos de interesse popular para que os vencedores pudessem se encastelar no poder e utilizá-lo em benefício próprio.

Mesmo que a política não tenha sido o principal alvo de suas preocupações, suas ideias e argumentos continuam atuais e válidos para analise do que atinge o nosso município, no decorrer dos anos em que foi emancipado de Ourém. Parecia fantástica a ideia de criar em nossas terras um lugar livre e próspero onde os filhos de Santa Luzia pudessem arregaçar as mangas e com as próprias mãos tecer o futuro dos seus irmãos. Para isso era fundamental que o exercício do poder estivesse verdadeiramente voltado para atender as necessidades do povo que precisava - e ainda precisa - de saúde, educação, saneamento, infraestrutura e outros meios que servem de suporte para estimular o desenvolvimento do município e o bem está do seu povo.

Infelizmente os planos eram outros, pra tristeza da população. Após a vitória dos grupos políticos que se revezavam no poder, os palanques eram desmontados, os projetos eram [e ainda são] engavetados e o povo era tirado de cena para que os vencedores pudessem se servir do banquete representado pelas verbas públicas.

Perdia-se oportunidades ímpares de colocar o nosso município na rota do desenvolvimento, aproveitando-se da localização geográfica privilegiada [BR-316], da possibilidade de concretizar a construção de olarias, incentivar o comércio, a agricultura, o turismo nas águas claras do Rio Curí... Pobre Rio Curí! Uma jóia da natureza que inspirava até os discursos políticos de grupos que almejavam o poder, mas que hoje não passa de uma vala onde são jogados os dejetos do matadouro municipal que contamina não só a carne que consumimos, mas a nossa alma.

A visão mesquinha e patrimonialista em que o chefe do executivo se impõe como se fosse o dono do município e a falta de consciência política do povo permite que o[s] prefeito[s] não tenha qualquer responsabilidade com a coisa pública. Para eles o que verdadeiramente interessa é o poder em si e para si. Como são a expressão máxima do poder, agem livremente cooptando [comprando] apoios entre alguns vereadores que fazem vistas grossas para as coisas erradas.

Parte significativa dos recursos públicos geridos pela administração atual e por algumas anteriores não cumpriu suas funções sociais. Foram roubados, desviados ou viraram esqueletos de obras inacabadas. Mercados, escolas, estádios, ginásios, matadouro, estradas, fábrica de açaí... Algumas delas jamais saíram da condição de “pedra fundamental”. Por causa disso Santa Luzia do Pará só aparece no noticiário [jornais, televisão e rádios] quando a notícia é ruim. Somos, inclusive, considerados um dos municípios mais corruptos do estado do Pará.

Enquanto as disputas entre as correntes políticas avançam na forma de manobras, conchavos, disputas internas, propinas, cala-boca e outros meios não convencionais, alguns se nutrem das batatas [recursos/verbas públicos] e a maioria assiste essa novela como se não tivesse nada a ver com isso.

É assim que o patrimônio público está sendo saqueado, desviado para satisfazer interesses particulares, transformando-se em fortunas no bolso de pessoas que até pouco tempo eram humildes, isso para não dizer “mortos de fome”. Hoje alguns já podem enterrar as antigas ideologias que já não são úteis. O que vale agora é a usufruir das benesses que o poder e o dinheiro proporciona. Não é companheiros?

Jorge Daniel
[Professor, geógrafo e especialista em Gestão Ambiental]

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