A Informação Passada a Limpo

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Professor indígena Tembé de Santa Luzia recebe homenagem do Governo do Estado

A página oficial do Governo do Estado na internet, a Agência Pará, está fazendo uma espécie de retrospectiva, homenageando paraenses que fizeram a diferença em 2016, e a primeira personagem do quadro "Histórias que contam 2016" é um luziense, indígena da etnia Tembé, da aldeia São Pedro, que pertence à reserva Alto Rio Guamá.

Karumã, de 25 anos, professor de História, licenciado pleno pela Uepa [Universidade do Estado do Pará], é fruto de um projeto pioneiro do Governo do Estado que em 2012, através de parceria com a Seduc [Secretaria de Estado de Educação], com o objetivo de preparar os próprios indígenas para atuarem na educação dentro das aldeias, formou a primeira turma intercultural de nível superior do Pará, integrada por Karumã e mais 78 indígenas de várias etnias que habitam o estado.

Karumã recebeu o diploma de licenciado pleno em História em fevereiro do ano passado, mas só começará a atuar como professor em sala de aula a partir deste mês, mais de um ano depois de formado.

Abaixo, o texto transcrito na íntegra, inclusive o título:

Aldeias de Mestres

Da tribo Tembé, localizada no município de Santa Luzia do Pará, nordeste do estado, o índio Karumã, 25 anos, assumiu um compromisso diante da aldeia de 200 habitantes: fazer seu povo conhecer a própria realidade e despertar o senso crítico.


Desde cedo, o curumim que aprendeu a ler na Escola São Pedro, na aldeia homônima, sonhava em se dedicar ao ensino. “A Funai [Fundação Nacional do Índio] nos mandava poucos professores, e eu tinha muita vontade de aprender. Ficava frustrado com isso, então me motivei a escolher a área de licenciatura”, conta ele, que, mesmo sem se dar conta, decidia ser um elemento transformador em sua sociedade, ainda pequenino.

No fim dos anos 90, o estado, por meio da Seduc [Secretaria de Educação], passou a contratar professores e investir na educação indígena. Em 2012, veio o passo definitivo a caminho do futuro. Karumã e mais 79 índios ingressaram na primeira turma intercultural de nível superior no Pará.

Os dois primeiros anos foram de aulas teóricas, no núcleo da Uepa [Universidade Estadual do Pará] em São Miguel do Guamá, a 114 quilômetros da aldeia São Pedro, em Santa Luzia do Pará. Depois, vieram as aulas práticas na aldeia, com profissionais da universidade.

Desde fevereiro de 2016 Karumã se tornou professor de História. “Tenho muito orgulho em fazer parte da primeira turma de professores indígenas de nível superior. Agradeço muito ao estado por nos proporcionar a chance de exercer e defender nossos direitos. Dar instrumentos para a gente andar com nossas próprias pernas, sem depender do homem branco”, comemora.

Raízes


O primeiro desafio de Karumã vai ser o de romper paradigmas. “O professor indígena ainda é visto com preconceito, porque a sociedade pensa que ele só vai falar da realidade de seu povo. Não é verdade. O professor indígena vai valorizar a história de seu povo em sala de aula, mas vai fazer a relação com a história do homem branco, europeu, latino, africano, de todos os povos. O que ele vai levar de diferente é a história de seu povo para dentro da sala, para que os alunos fortaleçam a identidade e possam afirmar: conheço a minha história e sei defender meus direitos e o sentimento de pertencer a esse povo. A educação é o nosso único meio para defender nossas causas e direitos”, destaca.

Recém-casado e ainda sem filhos, Karumã está ansioso para entrar em sala de aula pela primeira vez como professor e educar os primeiros “filhos”. “O professor indígena é também uma liderança na comunidade e tem muita responsabilidade diante de seu povo. Educação não pode ficar restrita a quatro paredes; ela precisa aproximar a sociedade indígena da educação e consciência”, defende.

Consciência que ganha continuidade. Em setembro do ano passado, a Uepa abriu novo processo seletivo para a segunda turma intercultural de nível superior. O grito de libertação do índio Karumã ganhará o reforço de 80 vozes, que vão ingressar na faculdade e, posteriormente, ocupar as cadeiras de mestre da educação indígena.

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