Mostra na tribo Tembé-Tenetehara destaca produções de cineastas indígenas em Santa Luzia do Pará
Com o objetivo de introduzir o cinema como ferramenta de fortalecimento e perpetuação da memória da rica cultura milenar dos índios Tenetehara, nasceu o primeiro “Festival de Cinema Tembé-Tenetehara”. A programação, que iniciou na última sexta-feira [11] e se encerra neste domingo, 13, vem exibindo diversas produções dentro da própria Aldeia Ita-Putyr, localizada na Reserva Alto Rio Guamá, no município de Santa Luzia do Pará. O local é descrito pela curadora do festival, Zahy Tata Pura’Gte [pseudônimo de Elida Braz no cinema], como “uma terra ancestral sagrada que guarda costumes e saberes de um povo originário repleto de singularidades”.
Aberta a toda comunidade e cidades vizinhas como Ourém e Capitão Poço, o festival conta com duas mostras. A primeira, “Parentes” reúne filmes que abordam as comunidades ancestrais ou que foram produzidos por cineastas indígenas, quilombolas e ribeirinhos. Na mostra “Karai”, demais cineastas selecionados trazem obras rodadas no Brasil e que possuem temática universal. Zahy Tata conta que fez sua curadoria buscando obras nacionais de grande relevância quando se debate sobre cinema e seus diferentes estilos e gêneros. Entre os destaques da mostra está “Cabeça Coroada”, do emergente cineasta cearense Saulo Vasconcelos. O documentário aborda a vida do premiado compositor de samba enredo e samba de partido alto Aluízio Machado, do Rio de Janeiro.
Alguns cineastas também foram convidados a integrar o festival batendo um papo com o público antes das exibições de seus filmes, compartilhando suas experiências na produção cinematográfica. Um deles é o paraense Flavio Contente, com seu premiado curta-metragem “Passos da Fé”, em que retrata a caminhada de romeiros da cidade de Castanhal até Belém durante o Círio de Nazaré. Segundo ele, “é uma emoção ímpar ter seu filme observado por uma comunidade indígena, que com certeza irá se emocionar com a narrativa”.
Outro paraense confirmado é Artur Arias Dutra, que, juntamente com André dos Santos apresenta o documentário “Mestres Praianos do Carimbó de Maiandeua”, rodado na charmosa praia de Algodoal e com imagens históricas do mestre Chico Braga. Para André, premiado em Cannes com “Samba de Cacete - Alvorada Quilombola”, o encontro é imperdível. “Estou muito feliz em participar deste Festival e exibir este filme que trata da cultura de povos tradicionais para uma comunidade tão sensível como são os indígenas”, comemora.
Evento inaugura a Escola de Cinema Tembé
Um momento muito aguardado dentro do festival é a exibição do longa-metragem “Wyra’ Uhaw Tenetehara – Ritual Sagrado Tembé”, que narra a Festa do Moqueado ou Rito da Menina-Moça. Ele foi todo filmado na própria Reserva Alto Rio Guamá e será exibido pela primeira vez para todos os membros de várias aldeias da região. Hoje, ainda ocorre a sessão “Curumin”, com os filmes de animação “O Rapto do Peixe Boi” e “A Onda da Pororoca”, dos cineastas paraenses Rodrigo Aben-Athar e Cássio Tavernard. Este último também aprovou a ideia de levar o cinema até a aldeia.
“Eu acho fundamental, como ferramenta de identificação e diálogo, que tenhamos acesso a uma linguagem que mostre nossos símbolos, nossa natureza e nossa rica diversidade cultural. Espero que os filmes sirvam como ferramenta de identidade por trazerem elementos de nossa fauna e flora amazônica, o que acredito seja facilmente reconhecido por eles, como povos indígenas”, diz Tavernard.
Escola de Cinema
Durante o festival outro importante passo será dado pelos indígenas: a inauguração da Escola de Cinema Tembé. Para a realização deste grande feito foram doados equipamentos de filmagem como tripés, câmeras, refletores, grua e claquete. Além disso, oficinas de manuseio desses equipamentos serão oferecidas gratuitamente. “A ideia é que todos os membros da Escola se familiarizem com o audiovisual e a partir daí comecem a produzir suas narrativas, inaugurando um polo de cinema indígena e contribuindo para perpetuar a rica memória Tembe-Tenetehara”, diz Zahy Tata.
A curadora revela ainda que o passo seguinte será realizar uma campanha de financiamento coletivo para construir uma nova ramada [Casa de Cultura Indígena], pois a atual encontra-se bastante deteriorada. “A ramada é um símbolo representativo da cultura e das tradições. Nela acontecem os encontros, os ritos sagrados e reuniões. Ela também servirá como cenário para realizações de vários filmes que mostrarão o cotidiano da aldeia”, projeta Zahy Tata.
Fonte: Diário do Pará Online
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