Os "anos de chumbo" no Brasil - 50 anos do Golpe Militar
Comemora-se [Temos razões para comemorar?] 50 nos do golpe militar no país ou seria da “Revolução de 64”? [Batizado assim pela elite civil ou militar conservadora]. O fato que esse período é um divisor de águas na história recente do país e que merece ser melhor estudado e pelo que representa, deve ser reescrito com “olhos da verdade” e não somente pela análise míope da retórica política ideológica que serve mais aos partidos que à nação.
O contexto histórico mundial do golpe é bastante significativo para entender e discutir àquele momento. A Guerra Fria dividiu o mundo em dois pólos de poder político, econômico, militar e ideológico entre os Estados Unidos e a União Soviética que revelou, em alguns momentos, um claro perigo de catástrofe nuclear e ameaça à existência na Terra.
A construção desse “Mundo Bipolar” exigia o alinhamento incondicional dos países ao modelo capitalista ou socialista. Pela força das armas ou da diplomacia, americanos e soviéticos iam redesenhando a geografia do mundo, apoiando governos favoráveis aos seus interesses e financiando golpes de estado para derrubar os governos que eram desfavoráveis.
O departamento de Estado Americano e a CIA eram especialistas neste assunto. O mesmo podemos dizer da famosa KGB soviética encarregada de infiltrar “o perigo vermelho” nas áreas de influencias do inimigo. O modelo cubano e chinês de guerrilhas ganhou muita simpatia dos ditos “movimentos populares”, operários, camponeses e da esquerda que fez a opção pela luta armada.
Outro aspecto importante também diz respeito ao contexto econômico, social e político do Brasil na época. Nosso país vivia uma grave crise econômica com inflação elevada, desemprego, arrocho salarial, greves, passeatas dando origem a um movimento de intensa organização, mobilização e agitação social, política, sindical, cultural... Que apresentava aspectos progressistas, reformistas e, por que não dizer, pré–revolucionários? Isso, obviamente, amedrontava setores conservadores que comandavam a sociedade no período.
Nas décadas de 50 e 60 a América Latina assistiu a Ascensão de governos populistas em alguns países como Brasil e Argentina que conviveram com líderes carismáticos como Domingos Perón, Evita Perón, Getúlio Vargas, Jânio Quadros e João Goulart, por exemplo.
Em geral, esses governos buscavam apoio nas camadas baixas da sociedade, na classe média, nos movimentos sociais, no movimento sindical, nos setores intelectualizados e progressistas da sociedade, propondo, assim uma ruptura com a elite da época representada pela alta burguesia, pelas oligarquias do Nordeste, pelos grandes latifundiários e ricos comerciantes.
Manipulando a massa não esclarecida, acenando com leis e garantias sociais e trabalhistas, sugerindo determinadas reformas na sociedade e quando lhes interessava, politizando ao extremo suas bases de apoio, o populismo foi fincando suas raízes no Brasil e atraindo o ódio de setores da sociedade acostumados a mandar na política e na economia nacional.
A ascensão de João Goulart ao poder representou um momento crítico para a chamada “elite”, pois além de contar com a simpatia dos movimentos sociais, sindicais e progressistas, e adotar claramente uma postura reformista contrário aos seus interesses, “Jango” adotava uma postura externa de independência em relação aos Estados Unidos, algo que não podia ser tolerado na época, uma vez que o Brasil e toda a América Latina eram considerados “quintais” dos Estados Unidos. Por causa disso, a diplomacia americana e a CIA são apontados como um dos responsáveis pela organização do golpe que derrubou João Goulart.
Os militares positivistas defensores da “ordem e do progresso” formados nas academias de forte inspiração na Doutrina de Segurança Nacional não viam essa efervescência política com bons olhos o que tornou quase inevitável, sob esse aspecto, a aliança com a elite, resultando no golpe militar de 1964 que mergulhou o país em um longo período ditatorial que violou a Constituição, suprimiu as garantias individuais do cidadão, a liberdade de expressão, os partidos políticos, o trabalho da imprensa livre... Enfim, fechando as portas da democracia no nosso país.
O desenrolar dessa história não nos deixa orgulhosos, pois os chamados “anos de chumbo” foram um período negro da nossa história.
Na clandestinidade, partidos políticos e alguns movimentos sociais, dedicaram-se a luta armada tanto nas cidades quanto no campo. Foram massacrados pelos militares que promoveram o endurecimento do regime, impossibilitando qualquer tipo de pensamento ou ação livre e discordante em relação ao governo militar.
Essa experiência macabra que foi a ditadura vitimou fatalmente centenas de pessoas, na sua maioria guerrilheiros e políticos de oposição, torturou outros milhares, outras centenas de pessoas foram obrigadas e pedir exílio no exterior e apagou as luzes da liberdade em nosso país. Algo que deixou cicatrizes incuráveis, mas que pode servir [lamentavelmente] para que possamos valorizar a democracia de hoje que ainda não está completa, pois é produto de uma construção coletiva e diária do povo brasileiro.
Jorge Daniel
[Professor, geógrafo e especialista em Educação Ambiental]
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