A Informação Passada a Limpo

A Informação Passada a Limpo

O gigante ameaçado

No mês de Dezembro o povo paraense será convocado, através de um plebiscito, a decidir sobre as propostas de divisão do estado do Pará que poderá ou não dá origem a mais duas unidades federativas em solo paraense: Os estados de Carajás e Tapajós.

Como educador e professor de Geografia da rede estadual e municipal de educação é oportuno esclarecer sobre o conteúdo das discussões, acrescentar informações, pontos de vistas e argumentos contra ou a favor da divisão. Como paraense também devo manifestar minhas opiniões a respeito da temática que envolve não apenas a questão territorial, mas, sobretudo, o sentimento patriótico de homens e mulheres que são filhos desta terra.

O estado do Pará já nasceu gigante, englobava o Amapá, o Maranhão e o Amazonas; perfazendo a maior unidade territorial do Brasil - colônia. Em função das políticas territoriais e dos interesses econômicos foi sendo sistematicamente dividido para dá origem a outros Estados e territórios federais. Ainda assim, somos o segundo maior Estado em dimensão territorial, um lugar onde vive um povo trabalhador, criativo e hospitaleiro que dança carimbo, toma tacacá e bebe açaí. Devoto de nossa senhora de Nazaré, do clube do Remo e do Payssandú.

Temos em nossas terras uma cultura fabulosa de origem indígena e ribeirinha, uma natureza exuberante, uma biodiversidade que desperta a atenção do mundo. É em nossas terras que está a maior província mineral do planeta, uma das maiores reservas de água potável, onde a maior bacia hidrográfica [Rio Amazonas] despeja no oceano atlântico milhões de metros cúbicos de água por segundo. Apesar de tudo isso somos um Estado rico de povo pobre como atesta a leitura do IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] e a maior parte dos indicadores sociais conhecidos.
Em função das enormes distâncias e da ausência de políticas públicas que não dão estímulos ao desenvolvimento de algumas regiões afastadas do centro do poder estabelecido na capital [Belém] e na região metropolitana, surge o discurso do suposto “abandono” que alimenta os projetos de divisão territorial.

Não se pode negar, completamente, a veracidade de alguns argumentos defendidos pelos que querem criar novos Estados. De fato somos um Estado de dimensões continentais que reúne condições geográficas e ambientais que desestimulam a presença firme do governo em alguns municípios, muitos deles localizados [isolados] a centenas de quilômetros de distancia da capital onde o acesso só é possível de barco ou avião.

Mas isso por si só não é suficiente para esquartejar o Estado do Pará. Há outros meios de resolver os problemas que condenam uma parte da população paraense ao abandono e ao subdesenvolvimento. Uma fórmula que costuma dá certo é atrair investimentos para essas regiões e criar condições estruturais para romper com esse isolamento geográfico. Isso depende de vontade política capaz, por exemplo, de concluir a BR-163 [Cuiabá-Santarém], a Transamazônica, viabilizar a Hidrovia Araguaia-Tocantins, a ampliação do Porto de Santarém e outras políticas públicas que atraiam empresas e gerem emprego para as populações locais.

Experiências bem sucedidas de divisão [o Estado do Tocantins] servem, na verdade, para ocultar o que está por trás dos discursos favoráveis ao retalhamento do Estado do Pará. Com a criação do Estado de Carajás ou Tapajós serão criadas inúmeras vantagens e oportunidades para as elites regionais idealizadoras do processo de divisão.

Centenas de cargos públicos [Governadores, Deputados, Senadores, juízes, Desembargadores, Vereadores, Promotores, Defensores...], bilhões de reais repassados pela união para obras públicas nesses locais e poder de barganha junto ao governo federal são só algumas das possibilidades de ganho político dessas elites. O interesse do povo, como sempre, vêm em segundo plano, embora este seja o grande afiançador dos objetivos políticos.

Curiosamente, as principais lideranças que estão por trás da divisão são naturais de outros Estados que foram recebidos pelo Pará de braços abertos e agora conspiram contra nós demonstrando que o egoísmo e os interesses políticos e econômicos dão o verdadeiro tom da questão.
Mesmo com os visíveis “gargalos” [Lei Kandir, falta de infraestrutura, repasse de ICMS para a venda de energia, a desorganização da classe política...] que engessam o nosso desenvolvimento, ainda assim somos um Estado viável, um dos principais responsáveis pelo saldo positivo de nossa balança de exportações brasileiras.

Dependendo de algumas obras e políticas públicas eficientes que estimulem o desenvolvimento integral do Estado e a conquista da cidadania dos paraenses [Conclusão de rodovias, a ampliação da ferrovia Norte-Sul até Barcarena, a construção do Porto de Espardate, a industrialização e verticalização da produção mineral, a ampliação do Porto de vila do Conde...] seremos ainda mais fortes e unidos na defesa da família, do território e dos valores do povo paraense.

Jorge Daniel
[Professor, geógrafo e especialista em Educação Ambiental]

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